Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. O verso 7 do quarto capítulo de 2Timóteo certamente é um dos muitos que os missionários Lídia Klava e Carlos Alberto Silva trazem no coração neste dia 30 de maio de 2019, que marca oficialmente a despedida do casal missionário dos campos de Missões Mundiais. Eles participarão do Congresso de Missionários-Educadores e serão homenageados durante o Culto de Gratidão a Deus, que será realizado na Igreja Batista de Campo Grande, em Assunção, no Paraguai. 

Foram 40 anos no mesmo país, levando o Evangelho de Cristo aos paraguaios, principalmente através das crianças atendidas pelo PEPE (programa socioeducativo). O Pr. Carlos Alberto e Lidia Klava Silva são missionários da JMM desde 3 de novembro de 1978, quando seguiram para o Paraguai. 

“Em nome do PEPE Internacional,  da JMM, expressamos nossa gratidão a Deus pela vida e ministério da missionária  Lídia Klava,  que  com todo  apoio de seu esposo,  Pr. Carlos Alberto Silva, serviu na coordenação do PEPE nas Américas  por cerca de 16 anos”, comenta Terezinha Candieiro, coordenadora do PEPE-Network.

Terezinha reconhece a forma especial com a qual Deus esse casal missionário trabalhou para a abertura de novos campos de implementação do PEPE, facilitando o  acesso de milhares  crianças à educação e ao conhecimento do amor de Jesus.

“Além disso, atuaram  no treinamento de muitos líderes que já têm dado seus frutos com as atuais e as novas gerações. Realmente são formosos os pés dos que anunciam as boas novas”, lembra Terezinha.

“Nossa sincera gratidão  por suas vidas e dedicação,  com  o desejo de que o Senhor continue  abençoando-os nesta nova etapa com novos sonhos e realizações. Sejam felizes”, completa.

A direção da JMM também fez questão de manifestar, em nome de cada batista brasileiro, a gratidão ao casal missionário: "Somos imensamente gratos ao Pai pelo testemunho, serviço, frutos e compartilhar de vida que tem sido alcançado por esse precioso casal", disse o Gerente de Missões.

Quatro décadas de dedicação ao Paraguai

Quando foram nomeados missionários de Missões Mundiais, em 1977, Carlos Alberto e Lidia Klava da Silva seriam enviados para a Venezuela. No entanto, o casal seguiu temporariamente para o Paraguai, enquanto aguardava o visto de residência da Venezuela, mas ele foi negado. O jovem casal entendeu que Deus tinha outros planos, e o tempo mostrou que o Paraguai era a vontade do Senhor para suas vidas.

Logo de início, algo que chamou a atenção dos missionários foi a idolatria, “uma realidade que ia muito além da nossa imaginação”, segundo Lidia, pois “não era nada fácil romper a barreira do entendimento das pessoas nessa questão. Hoje a idolatria continua, mas há abertura para o diálogo”. E uma dificuldade foi viver na primeira cidade onde atuaram, no interior do Paraguai.

“Ali se falava 20% em espanhol e 80% em guarani, e nos sentimos ‘analfabetos’ por muito tempo”, recorda o Pr. Carlos Alberto da Silva, que lembra também a restrita liberdade religiosa naqueles tempos por causa da ditadura de Alfredo Stroessner.

“Naquela época, muitos brasileiros estavam emigrando para o Paraguai, e de certa forma os brasileiros eram vistos como invasores, e nós, enquanto missionários, éramos chamados pejorativamente de ‘evangelhos’ (evangélicos)”, conta Carlos Alberto.

No Paraguai, atuaram em lugares como Hernandarias, onde uma igreja foi organizada e o templo foi construído. Em Assunção, a Igreja Batista La Buena Nueva (“A Boa Nova”, em português) também foi pastoreada por nossos missionários, que também passaram por Luque, Naranjal e Ciudad del Este.

Durante todos esses anos, Carlos Alberto e Lidia participaram sempre de congressos denominacionais com treinamento para obreiros, o que é especialmente percebido atualmente através do PEPE na América do Sul.

Em 40 anos, os missionários ressaltam que muita coisa mudou: valores, aumento da criminalidade, intensificação dos vícios e imoralidade, mas também veio o desenvolvimento, indústrias, melhores hospitais.

“Também no campo da evangelização, a mensagem do Evangelho é a mesma, mas as ferramentas através das quais alcançamos as pessoas têm sido diferentes”, diz Lidia.

“Por exemplo, quando chegamos ao Paraguai, o único meio para pregar o Evangelho era através do contato pessoal e distribuição de literatura. A liberdade religiosa era muito controlada, e reuniões realizadas fora do templo eram consideradas suspeitas”, lembra a missionária.

Lidia conta que, quando qualquer pessoa queria fazer uma reunião, religiosa ou não, deveria comunicar à polícia indicando hora, local e número de participantes.

“Com o fim da ditadura, a liberdade de culto passou a ser irrestrita, permitindo inclusive o uso dos meios de comunicação em massa. Hoje continuamos pregando o Evangelho através do contato pessoal, mas também usando outros meios, como o esporte, grupos de evangelização, encontros nos lares para estudar a Bíblia, além do serviço social prestado à comunidade através do PEPE, que tem transformado a visão da igreja na sua estratégia de evangelizar”, diz o Pr. Carlos Alberto.

A partir de 2002, o campo missionário se expandiu para outros vizinhos latino-americanos, ficando mais restrito à América do Sul nos anos mais recentes. Foi quando Lidia Klava da Silva passou a apoiar e depois coordenar o programa socioeducativo promovido por Missões Mundiais na região, onde quase 6 mil crianças são beneficiadas em 289 unidades espalhadas por sete países (Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela).

Em quatro décadas, certamente houve momentos de tristezas e frustrações, mas também de muita alegria e superação. É o que relatam nossos missionários.

“Ao olhar para esses 40 anos de campo, nossa maior alegria é ver vários jovens que levamos a Cristo e foram chamados para se preparar em seminários e que continuam atuantes no Reino de Deus, trabalhando como pastores e missionários”, diz o Pr. Carlos Alberto.

“Outra grande alegria é ver como Deus escreve novas histórias na vida de crianças e suas famílias que participaram do PEPE e hoje têm seus nomes escritos no Livro da Vida. Várias dessas famílias hoje têm perspectivas e novas alegrias que seguramente alegram o coração de Deus e o nosso também”, afirma a missionária Lidia Klava.

O casal expressa também sua gratidão aos batistas brasileiros, que durante esses 40 anos o apoiam em todas as áreas para que o Reino de Deus possa crescer e vidas sejam restauradas e transformadas.

E agora, 40 anos depois, o casal revela que, naquela época, chegou a fazer a seguinte oração: “Senhor, não sabemos se vamos para a Venezuela. Envia-nos para qualquer lugar do mundo que serviremos com todas as nossas forças e todo o nosso coração, desde que não seja o Paraguai”.

“Mas creio que Deus deve ter olhado e dito: ‘É para lá que eu quero vocês’”, conta o Pr. Carlos Alberto da Silva. “Hoje entendemos que esse país era o lugar correto onde Deus queria usar nossas vidas. Já poderíamos ter ido à Venezuela ou outro país, mas entendemos que este é o lugar que Deus preparou para que estivéssemos todos esses anos”, conclui.