Compartilho com você o relato de um jovem, o qual preservaremos sua identidade por razões óbvias. Ele nos ajudou como intérprete numa de nossas idas com integrantes do programa Voluntários Sem Fronteiras àquela região do Oriente Médio. No último dia de atividades, ele nos disse: “Obrigado por nos ajudar, mas eu e o meu povo já sabemos que fomos predestinados a viver sem esperança”.

Aquela declaração partiu o coração de toda a equipe. Agora, ele me escreve este relato sobre um episódio ocorrido há exatos 6 anos, que levou milhares de Yazidis a serem obrigados a estarem hoje num campo de refugiados no norte do Iraque. 

“Não esquecemos do genocídio feito contra nós naquele 03 de agosto de 2014. Seguimos com nossos corações partidos com os flashbacks dos sequestros, violência sexual, destruição e morte.

 Foi muito difícil andar entre os corpos (alguns decapitados). Não foi fácil para nós deixarmos nossas almas por lá. Deixamos nossos jardins cheios de amor, brincadeira e tranquilidade de nossa linda cidade.

 Jovens e velhos foram sequestrados; homens e mulheres separados um dos outros, enquanto nossos algozes cometiam os crimes mais hediondos contra nós. Tais eventos não são estranhos para nós. Como mencionado na história de nossa religião, aquele era tão somente o 74º genocídio contra o nosso povo.

 Desde que a humanidade existe, nós, os Yazidis, enfrentamos genocídios pelas mãos de grupos religiosos extremistas, principalmente de muçulmanos.

 Muitas aldeias foram destruídas e os governos locais e internacionais ainda não estão fazendo nada e não reconstruíram nossa cidade destruída devido aos atentados a bomba e outros atos terroristas.

 Muitas mulheres ainda estão em cativeiros e seus filhos estão desaparecidos. Muitas delas foram estupradas por membros do ISIS, e outras foram vendidas em troca de armas ou uma quantia em dinheiro, ou dadas como presentes aos líderes radicais. As que sobreviveram às barbáries seguem em prisões, vivendo numa contemporânea escravidão.

 Eles mataram a maioria dos homens que se recusaram a se converter ao Islã. Quando eles levaram as famílias de diferentes vilarejos, aos homens deram duas opções: se converter ao Islã ou morrer lutando.

 Muitas meninas e mulheres foram transferidas para o interior da Síria, assim como muitas famílias.  A maioria das crianças foi recrutada, treinada e educada a usar vários tipos de armas leves e pesadas. Um número inimaginável de famílias mudou-se para uma montanha por medo, e aquele lugar foi nosso refúgio por incontáveis dias. E por lá, passamos fome, frio e todo tipo de necessidades.

Fomos levados para a Síria e finalmente chegamos nesse país. Aqui, deram a cada família uma barraca nos acampamentos, e é onde estamos hoje, depois de exatos 6 anos daquele horrendo 03 de agosto de 2014.

Estamos vivos, e isso é bom. Mas seguimos sofrendo por estarmos longe de nossa terra e por sermos alvos de todo e qualquer tipo de discriminação e preconceito.   

Nossa pergunta diária é: até quando viveremos dessa maneira? Até quando seremos negligenciados por todos? Até quando?”.

Os Yazidis são, sem dúvida alguma, as maiores vítimas do terror contemporâneo no Oriente Médio. Não há presença cristã entre eles. Ore por esse jovem e por todos de sua etnia que relembram, nesse dia 03 de agosto, um dos capítulos mais cruéis de sua história.

 

Paz - السلام  

Pr. Caleb Mubarak

 

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