Era um simples domingo, estávamos em um restaurante com alguns irmãos conversando e tendo um tempo de comunhão. Entre risadas, conversas aleatórias sobre o tempo, comida e sobre a semana de cada um, meio que de repente uma das jovens presentes nos interrompeu e quase que sem discernir o tom descontraído da mesa falou:

“Na verdade eu vim aqui com um objetivo bem específico: quero saber como eu posso compartilhar do Filho de Deus com minha família. Estou indo de volta para minha cidade natal e quero compartilhar da Vida com eles, mas não sei bem como o fazê-lo”. 

Depois do seu breve discurso, em um misto de satisfação e apreensão ela virou-se para trás, pegou um caderno e uma caneta e preparou-se para ouvir, como quem diz: "vamos lá, estou pronta para aprender a como falar Dele”.

Estávamos em um grupo de mais ou menos dez pessoas e aqui em nosso contexto não podemos ter conversas sobre a Palavra de forma aberta. Então, a chamamos para uma mesa à parte e passamos a conversar a meia voz para evitar ouvidos curiosos. Perguntamos detalhes sobre sua família e de como ela chegou a essa decisão de compartilhar do Senhor naquela data. 

Não diferente de tantos outros jovens, a relação entre Minie (nome da jovem) e seus familiares está longe da ideal. Ela cresceu sendo rotulada como uma filha rebelde e difícil. Seu pai é extremamente cético, sua mãe é budista, tem medo de espíritos e não tem uma boa relação com o esposo. E o irmão mais novo segue os passos do pai. A verdade é que todos os detalhes que ela expôs sobre a família não caberiam aqui, mas você percebe que compartilhar da Graça em um contexto familiar desses não é nada fácil. Para complicar ainda mais, recentemente Minie perdeu uma tia muito querida, ela e toda a família ainda estão abalados com a perda. A jovem explicou que a perda da tia foi um dos motivos que a impulsionou a compartilhar da Graça com a família. A tia não cria no Filho e vê-la partir sem antes ter entregado sua vida à Ele foi muito difícil para Minie

Logo após nos contar tudo isso, como quem acende uma vela em quarto escuro, Minie nos falou: 

“Mas minha família sabe em quem eu creio, eles mesmo me disseram que eu mudei muito, que não sabem o que aconteceu, mas eu não pareço mais aquela filha rebelde do passado e que agora eu tenho me tornado uma filha exemplar. Eu já falei pra eles o motivo: O Filho. Falei que uma das primeiras coisas que aprendi no Livro foi ‘honrar pai e mãe’. Meu pai até escuta, mas ignora conversas sobre ‘religião’. Minha mãe é mais aberta, mas sinto que ela é muito presa ao Budismo. O importante é que eles sabem no que creio e dessa vez quero compartilhar de forma mais direta e explicar a razão da minha nova vida”.

A primeira coisa que falamos para a Minie foi um sonoro “muito obrigado!” Agradecemos a ela a confiança em compartilhar conosco sua história e o encorajamento que ela nos trazia com aquela atitude. Conversamos com ela sobre estratégias de como falar da Palavra de maneira mais orgânica, de forma que ela construísse pontes e não muros, pois a família por vezes é o terreno mais difícil a ser arado e semeado. Por ser tarefa do Espírito Santo, ela não deveria se pressionar para ver resultados imediatos, nossa tarefa é plantar sementes e deixar que Ele regue e as faça germinar. No entanto, se houvesse oportunidade, ela deveria compartilhar de forma direta sobre o Caminho de Deus. Lembramos a ela que o falar de Cristo por vezes não seria possível, mas as atitudes dela poderiam trazer luz sobre a família e até mesmo instigar perguntas por parte deles e aí sim esta seria uma boa oportunidade. 

Enfatizamos que uma excelente ferramenta seria ouvir, ouvir, ouvir e entendendo o que está no coração dos seus parentes, dizer para eles que ela iria pedir ao Pai por eles e isso já seria um compartilhar. Conversamos sobre muitas outras estratégias e aprendemos bastante naquela manhã. Como o Senhor é bom, como Ele usa diferentes pessoas para diferentes tarefas. Nós mesmo não podemos ir até sua cidade natal para compartilhar, mas podemos equipá-la para fazer a tarefa e ela com certeza a fará bem melhor do que nós!

Algumas semanas depois Minie estava de volta, a chamamos de lado e perguntamos como havia sido o encontro com a família. Minie estampou um sorriso e disse que foi melhor do que ela esperava. Quando ela chegou em casa percebeu que seus pais estavam brigados a tal ponto que não podiam ficar no mesmo ambiente, ela aproveitou a oportunidade para falar da Graça e de alguma forma ajudá-los. Ela compartilhou diretamente da vida em Cristo com sua Mãe em algumas ocasiões. Alguns parentes também estavam presentes e ela nos falou que um fato muito interessante ocorreu, eles disseram para ela que percebiam que ela tinha algo a compartilhar e que queriam ouvir. Depois que ela falou da ajuda que encontrou em Jesus, eles abriram seus corações e falaram de alguns problemas que estavam passando, gerando oportunidade para que ela intercedesse por eles. Resumindo, foram dias de Graça sobre aquela casa, dias em que o Senhor usou uma jovem e apaixonada serva para levar a mensagem transformadora para os seus parentes queridos.

De forma proposital, não mencionamos um fato sobre a Minie, ela passou por um período muito difícil há alguns meses de tristeza profunda e problemas emocionais. A verdade é que ela ainda batalha contra esses problemas, mas mesmo em meio a essa luta da alma ela não deixou de ouvir o chamado Dele para abençoar sua família. Ela nos fez lembrar de tantos irmãos e irmãs que, por conta das lutas que têm passado durante essa pandemia, têm enfrentado as mais diferentes “enfermidades da alma”. Minie nos trouxe esperança ao lembrar que mesmo aparentemente “quebrados”, Ele segue nos usando pela Sua Graça e na força Dele. 

Então, sigamos em frente na certeza de que Deus é por nós e isso não vai mudar.

 

Ael e Bel Oliveira

Missionários no Leste da Ásia

 

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