“Antes como está escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito” Rm15:21 

Viver em um contexto transcultural traz consigo inúmeros desafios e peculiaridades. Somando-se a isso, a missão de transmitir a mensagem da Graça em um ambiente com restrições e proibições, os desafios e peculiaridades são elevados, a ponto de ser difícil de explicar; mas que precisa ser entendido e colocado diante do Pai em intercessão para que nossas convicções e forças não sejam minadas. 

Os últimos meses trouxeram inúmeros desafios e sentimos que precisamos de uma ajuda extra dos nossos companheiros de jornada para seguirmos em confiança, fé, sabedoria e graça. E com nossos companheiros, estamos falando de você.

Uma das peculiaridades por aqui é que todos os meios de comunicação são monitorados. Não importa se é um aplicativo de celular ou a internet da sua casa, tudo está sujeito a filtros, análises e atenção por parte das autoridades. Isso significa que não passamos mensagem de qualquer jeito. Não podemos usar a linguagem da Palavra de forma livre em nossas mensagens e temos que tomar cuidados extras com informações muito detalhadas. 

Um dia recebemos uma mensagem de uma amiga com a qual não falávamos há algum tempo. Ela, que chamaremos de Anna, nos perguntou como uma pessoa fazia para se tornar seguidora do Filho. A princípio, uma mensagem maravilhosa, não? Sim, mas em nosso contexto precisamos responder a esse tipo de mensagem com muito cuidado. 

A primeira coisa que precisávamos saber era se era mesmo a nossa amiga, a segunda era como responder de maneira sábia e cuidadosa, pois aquela mensagem seria monitorada. Graças ao Pai, realmente era a nossa amiga Anna e estava perguntando porque já havíamos compartilhado com ela pessoalmente da nossa convicção Nele. E também porque Anna tinha uma amiga que havia decidido conhecer mais do Filho e queria saber como fazer isso. No fim das contas a mensagem teve até um conteúdo cômico, pois ela perguntou se precisava fazer algum teste antes de se tornar seguidora do Filho ou se precisava pagar para ir aos encontros. Obviamente, respondemos que não e indicamos um grupo local que conhecemos para que ela pudesse visitar.

Imagine se você recebesse esse tipo de mensagem? Que alegria, não? Você provavelmente se ofereceria para ajudar a pessoa, a levaria para as reuniões e tudo o mais… E era isso exatamente o que queríamos fazer, mas nosso contexto especial exige sabedoria e confiança na providência de Deus para aqueles a quem Ele tem tocado. 

Nossas respostas e ajuda tiveram que ser calculadas e pensadas antes de concretizadas e assim temos feito desde que chegamos aqui. E nos últimos meses, esse cuidado tem se intensificado. No entanto, é motivo de extrema gratidão perceber que, mesmo em meio a tanta restrição, o Pai segue abrindo portas surpresas. Ele segue nos lembrando que o trabalho é Dele e que nossa tarefa segue sendo o de estar atentos à sua voz e seguir em fidelidade. 

Um outro exemplo é o processo de receber novos membros em nossa igreja nas casas. Temos um grupo de aproximadamente 30 pessoas que se reúnem dominicalmente em dois locais diferentes, pois 30 pessoas chamariam bastante atenção. Mesmo não tendo a liberdade de anunciar e trazer novas pessoas para esse grupo, o Pai tem nos dado o privilégio de ver o grupo aumentar e mais pessoas têm sido cuidadas, ensinadas e abençoadas em nossa comunidade. 

No entanto, dadas as restrições, não podemos receber visitantes, desconhecidos ou mesmo amigos em nosso grupo sem antes ter um cuidado extra e conversar com eles. Todos os membros do nosso grupo sabem que precisamos evitar mencionar nossas atividades em redes sociais, mensagens de texto e até mesmo evitar comentar com amigos e parentes que fazemos parte desse grupo. Contudo, não significa deixar de afirmar em quem cremos e quem somos nele para nossos amigos. A única coisa que fazemos é não mencionar o grupo e nossas reuniões, porque se não tomarmos cuidados extras e a notícia de que temos um grupo como esse chegar a ouvidos errados, com certeza teremos problemas e nossos amigos locais sofrerão consequências sérias. 

Assim, antes de recebermos uma nova pessoa precisamos conversar, conhecer, saber quem ela é e, além disso, o novo potencial membro precisa ser indicado por outra pessoa que já pertença ao grupo. Novamente pedimos que você imagine que fosse na sua comunidade, se alguém que já conhece o Mestre Jesus se achegasse pedindo para fazer parte, o que aconteceria? Certamente haveria um processo para que isso acontecesse, mas seria algo natural e simples, certo? Esse é o nosso desejo, mas nossa realidade é outra. 

Não nos alegra colocar tantos “empecilhos” ao processo, mas no passado vimos muitos ignorarem a sabedoria e o nosso contexto deixando esses cuidados extras de lado. A consequência foi que seus grupos foram obrigados a se desfazer, outros foram expulsos do país por terem sido identificados como líderes de grupos. E ainda, alguns irmãos locais são obrigados a pagar altas multas e outros constantemente recebem comunicados dos oficiais pois tiveram problemas no passado. Não se engane, estamos prontos para passar por tudo isso e sabemos que sofrer pelo nome Dele é privilégio. Mas seguir a sabedoria da Palavra e agir com responsabilidade também faz parte da jornada. E essa jornada não requer velocidade, mas consistência, perseverança e confiança de que Ele vai seguir a frente de nós.

Lembre-se de nós e de todos esses detalhes especiais que são parte de nosso dia a dia quando for orar pela obra. Nos ajude a perseverar por meio da sua intercessão, mas lembre-se disso tudo com alegria e gratidão no coração, pois temos aprendido a conviver com esses detalhes extras com o coração grato pelo privilégio de seguir por aqui testemunhando do agir de Deus. Juntos vamos seguindo, nós daqui, você daí e o Pai por nós, em nós e sobre nós! 

Ael e Bel Oliveira

Missionários no Leste da Ásia

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