Uma a cada quatro vítimas de tráfico de pessoas na Europa é criança, segundo estudo da organização Save the Children 2018. Os feminicídios aumentam diariamente e na soma final de todas estas violências, mulheres e crianças são sempre as mais feridas. 

A grande maioria dos meninos europeus chegam aos 14 anos já tendo consumido pornografia, filmes recheados de violência, vídeos de estupros reais e, assim,  se multiplicam as famosas “manadas” que são nada mais, nada menos  que grupos de homens que saem a caça de vitimas para estupro. 

Tanto vítimas quanto agressores são cada vez mais jovens. E as práticas criminosas são frequentemente filmadas e disponibilizadas na internet.   

É comum jovens rapazes saírem às sextas-feiras para o happy hour em busca de “carne fresca”, como tratam suas jovens vítimas. Eles vão para a área industrial ou para apartamentos de alterne em busca de prostitutas e travestis. Alguns pedem “diversidade”, se referindo a vítimas com síndrome de down, surdez ou outro tipo de deficiência. 

Nesses lugares há meninos e meninas de mais de 60 nacionalidades diferentes, que são humilhados e tratados como lixo. Para os agressores, essas pessoas valem menos que qualquer bem material que possam ter. 

O trafico humano é o comércio deste século onde a mercadoria são as pessoas e quem traficou, iludiu, convenceu a vítima  é o possuidor desta “mercadoria”. E quem paga um dólar para estuprar uma menina que está no meio da floresta ou quem paga cinco mil euros comprando a garantia de estuprar uma menina virgem e não ir preso, é a mesma coisa. 

Falar de tráfico de pessoas é realmente assustador. Cada vez mais os que deveriam proteger, são os que ferem. Os que deveriam fazer o bem, são os que fazem mal. 

Dias atrás estive numa grande cidade da Espanha, fomos com uma equipe para a rodovia principal e encontramos algumas meninas do Leste Europeu. A região é extremamente quente e lá encontramos meninas loiras, muito magras, e com a pele muito escura de tanta exposição ao sol. 

Conversamos com algumas com idade entre 18 e 25 anos e todas tinham chegado às rua antes dos 14 anos. Perguntamos a uma delas se queria sair da rua, mas ela respondeu que sabe que só sairá dali morta. Dias antes, haviam matado uma de suas amigas de rua. 

Outra jovem, pegou a comida que lhe demos, guardou e disse que não falava espanhol, tentando fugir da conversa. Mas quando falamos de Jesus, ela chorou e agradeceu as orações. Falou que tinha 18 anos, mas seu rosto denunciava menos de 15 anos.

Uma terceira jovem contou-nos que já estava há anos se prostituindo nas ruas. Ela foi vendida pela própria mãe ao dono de um prostíbulo quando tinha 9 anos. O ódio e a dor no seu coração são tantos, que ela não se imagina saindo dessa vida. Ela diz não servir para outra coisa. Perguntei se gostava desse estilo de vida, ela sorriu e respondeu: “Claro que não!”. Oferecemos uma possibilidade de saída e ela disse: “Se eu sair, eles me encontram. Nunca me deixarão viver livre”. 

Mas à frente encontramos algumas meninas da Nigéria. Todas com menos de 24 anos, e com filhos no seu país. Elas revelaram ter dívidas com quem as trouxe para a Espanha. Antes de sair do seu pais falaram que pagariam a dívida trabalhando um mês ou dois, que só deveriam 2000 euros (aproximadamente 8.500 reais), mas quando chegam aqui descobrem que devem muito mais e ficam pressas por anos. 

No tempo que caminhamos junto a elas, chegaram clientes de todas as raças e classes sociais. Nenhum perguntava se elas estavam ali por vontade própria ou se eram obrigadas. 

Uma delas estava sentada na rua aos prantos, mas isso não impediu um homem de abordá-la para satisfazê-lo sexualmente em seu próprio carro. 

Algumas destas jovens foram marcadas por seus “donos” nos braços e nos seios. Sentadas numa cadeira esperando os “clientes”, elas fazem jornadas de 14 ou 16 horas diariamente; expostas como uma mercadoria. 

Vejo esta realidade já faz anos, mas ainda me emociono. Cada dia que caminhamos como humanidade mais longe do Senhor, perdemos toda essência que nos faz humanos, que faz Deus visível em nós. Nossos pecados ocultam e sujam quem somos e nós ferimos uns aos outros. Cada vez que alguém trata o outro como uma coisa, esquece que fomos feitos a imagem e semelhança de Deus, homens e mulheres, de todas as raças, sem distinção. 

A criação clama pela manifestação dos filhos de Deus e a alma dos que sofrem clama por uma igreja que se levante para defender os que sofrem, para abraçar e proteger, para denunciar o que está errado, mas sem esquecer que antes de tudo é preciso viver uma vida de santidade. 

Sou consciente que a minha tarefa nesta Terra não vai eliminar o tráfico humano, mas se o que eu fizer ajuda a que uma criança a menos seja estuprada ou vendida, que um abusador se arrependa de verdade, que um homem ou uma mulher explorados sexualmente fiquem livres, ou que algum de vocês se levantem para defender aos que sofrem, então, encontrarei sentido para minha vida. 

O tráfico de pessoas existe. Mas o braço estendido de Deus para salvá-los também é real e nós, a igreja de Cristo, somos esse braço.

 

Luiza Rossi
missionária na Europa Ocidental

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